9 de ago. de 2016

O eixo Teerã, Moscou e Ancara: o potencial das três nações autoritárias antiocidentais

Como Moscou, Ancara e Teerã estão colocando suas estratégias a frente das da Europa.


Triunvirato 


No dia 24 de dezembro do ano passado, um caça russo foi abatido por um jato turco, quando sobrevoava a fronteira do país com a Síria, dando assim início a tensões diplomáticas que durariam até o dia de hoje. Porém, após aquele incidente, aos poucos Ancara tentou reaproximar-se de Moscou.

Alguns jornalistas e comentaristas de política externa falam que isso poderia ser por causa das sanções de Moscou, mas, aparentemente, não é esse o caso. Eu já reiterei isso várias vezes aqui, de que durante esse período de “tensões” o que houve realmente foi um teatro bem armado. Considere a seguinte questão:


Após o abate do jato russo, Ancara manteve-se próxima a Teerã, que é um forte parceiro da Rússia em diversas questões. Não só Teerã manteve Ancara em sua órbita, como não se constrangeu pelo ocorrido entre o governo turco e Moscou. 




Além disso, o histórico de coordenação política entre esses países é formidável demais para que levemos em consideração um único incidente, no caso, o abate do caça russo, que como eu já disse: não passou duma reles novela. A morte do piloto tem tanta importância para Putin quanto a de um cachorro ou um gato. Um exemplo de como se comprova o grau de comprometimento entre esses três países:


Observem:

Resumo da notícia: “Turquia e Brasil selam acordo sobre troca de combustível nuclear do Irã” Reuters, 17 de maio de 2010.


Foto do dia em que o acordo foi firmado


Nesse período, consta-se que os detalhes [do acordo] não foram declarados, tanto é que o acordo não andou para frente. Mas considere a seguinte questão: a Turquia era e é um membro da OTAN, e o Irã, desde aquele período – e porventura continuará sendo – considerado o principal país patrocinador do terrorismo

Se havia uma desconfiança legítima por parte da comunidade internacional, certamente ela era bem embasada, portanto, ao arriscar sua respeitabilidade no seio da comunidade internacional, Ancara mostrou que estava disposta a usar de sua respeitabilidade para tirar vantagens para o seu parceiro o Irã.

Ancara por meio dessa ação demonstra que estava ativa em ajudar, tanto Moscou, quanto Teerã. Se o acordo vingasse, Teerã teria um curto espaço de tempo para a construção de seu programa, e tudo isso, graças a Ancara e a Rússia; principalmente a Rússia, que foi quem lhe ajudou na implementação do programa, para início de conversa! 

O papel do Brasil nesse caso, serviu mais como mediação, e só! Até esse ponto, você pode questionar a participação da Rússia no acordo, mas suas digitais estão aí. Se até aqui você ainda se questiona da conexão, eu vou dar uma pista. 

Durante o período em que os olhos do Ocidente estavam virados para Teerã, a Rússia fez questão de dar recados indiretos para os Estados Unidos e Israel, no que concerne a interferência militar nas instalações nucleares de Teerã. Na época, Israel tencionava uma investida armada para impedir que Teerã levasse adiante o seu projeto, mas a Rússia e a veia pusilânime de Obama impediram que isso fosse feito. Exemplo:


Essa declaração por si só demonstra até onde a Rússia irá por Teerã, para manter vivo o seu programa nuclear, que ao contrário do que dizia o líder do regime na época, não é voltado para fins pacíficos.

Jornalistas falam que o interesse de Ancara é meramente econômico, visto que os principais turistas são oriundos da Rússia, e o turismo é o seu principal lucro.

Mas como disse anteriormente, isso é pouco provável. A Turquia agora tem um trunfo em suas mãos: um simulacro de golpe e poderes para mudar a constituição, fora o temor de Bruxelas de que o acordo de refugiados seja desfeito. 

Agora, retomando a questão do programa nuclear do Irã – nos períodos de 2009 a 2010 Israel estava louco para atacar o Irã pelo seu alegado programa nuclear, mas já nesse período, tanto Bush quanto Barack Obama se recusaram a dar “luz verde” para Israel, que instigava Washington a atacar ou a autorizar o ataque as instalações nucleares iranianas. 

O mais notório é que o vice-presidente John Biden, com Obama já em exercício, na época – 06 de julho de 2009 – foi quem declarou a possibilidade de um ataque ao Irã. No entanto, Obama tentou desfazer a cagada no dia seguinte a declaração. 

Depois que Obama jogou água no chope do língua solta John Biden, Israel insistiu um pouco mais, mas Washington se recusou, e Israel teve que recuar na sua pretensão. Mas considere a declaração de Moscou em 06 de setembro de 2012, anos depois; aparentemente, Moscou não aceitaria passivamente um ataque estadunidense, muito menos israelense.

Toda essa tensão foi gerada a partir do programa nuclear do Irã, do qual Brasil e Turquia participaram ao menos em um determinado período e de forma indireta.

Ancara colocou em jogo o seu papel como “aliada” ocidental, como é vista, e agora põe em jogo mais uma vez no seu jogo com Moscou, de demonizar o Ocidente por não extraditar o suposto mentor do autogolpe.

Na minha concepção, ao aceitar a Turquia como o baluarte dos portões da Europa, a União Europeia jogou a crise de refugiados no colo da Rússia, pois – mais uma vez – como eu disse: Moscou e Ancara continuavam sendo parceiros mesmo após o abate do Sukhoi-24 russo.

A “reaproximação” entre Moscou e Ancara deveria ser um sinal de alerta para Israel, pois enquanto o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu pensa que pode contar com a Rússia, Moscou, ao mesmo tempo em que está armando Teerã até o pescoço, e é capaz de "ganhar" a simpatia de Ancara para que o Irã se expanda para além da Síria e do Iraque, ao passo em que o país terrorista está entupindo a Síria de terroristas treinados pelo Hezbollah, que mais tarde se voltarão contra Israel. Ancara tem forte apreço por Teerã, e os seus laços são fortes demais.

Durante um longo período a diplomacia ocidental poderia ter posto um fim ao programa iraniano, mas, aparentemente, a ONU está repleta de tudo aquilo que Vladimir Putin gosta: socialistas e déspotas.

Por isso ficaram somente nas sanções. A social democracia austríaca e outros têm pressionado Bruxelas a desfazer o acordo de adesão da Turquia, porque acreditam que o país está sendo levado a rumos antidemocráticos. 

Para mim, isso é algo ainda mais suspeito, visto que seria formidável o caos se estabelecer de modo muito mais vigoroso se isso acontecesse. Apressaria as coisas, e é exatamente o que o eixo quer.

O que me faz pensar que isso também pode ser proposital. Embora Bruxelas tenha temores de que a crise de refugiados possa se agravar, pelo fim do acordo, isso de longe é uma realidade, já que Ancara prometeu dar cidadania turca a cidadãos sírios, ou seja, a quota reassentada irá receber cidadania. 

E como uma parte do acordo diz que Ancara terá isenção de vistos, isso automaticamente jogaria os refugiados com cidadania turca de volta na Europa. Erdogan e Putin poderão fumar e rir da cara dos europeus a vontade, enquanto veem o desespero se espalhando. 

Então, a Europa ficaria numa encruzilhada, em que o acordo em si é ruim, e se desfazer dele é ainda pior. Mas entre o ruim e o pior não há diferença. 


Nas duas opções, de se desfazer o acordo, ou de ir adiante com ele a Europa sangra! E mesmo que o acordo seja desfeito, isso não vai pôr em jogo os laços de Moscou e Ancara; pelo contrário: será maravilhoso ver ataques simultâneos na Europa, que não consegue parar o fluxo – Putin estaria mais do que satisfeito. 

Os laços e a quebra deles no fim das contas não passaram de jogadas estratégicas entre Ancara e Moscou, que agora colocam a Europa em um risco ainda maior do que já estava. 

Ancara pôde vislumbrar o presidente da Comissão Europeia sendo repreendido pelos seus correligionários, por fazer ameaças ao governo autoritário, e sua ida a imprensa dizendo que há temores do que Ancara possa fazer. 

O retorno dos laços, o sentimento antiocidental de Ancara pela não extradição do seu espantalho mais a sua responsabilidade num acordo que garante a segurança da Europa e o autogolpe, que lhe dá poderes totais, são só algumas das estratégias que podem tornar os próximos anos presumivelmente caóticos na Europa. Ambos inventaram desculpas para implementar leis draconianas supostamente para combater aquilo que fomentam e que têm familiaridade, ou seja, o terrorismo.

O potencial da aliança entre os dois países, que como eu disse, não é de agora, mas de longa data, é algo realmente imprescindível. Diferentemente do que a imprensa diz – embora seja triste admitir isso – a Turquia é praticamente islâmica, e mesmo que digam que as ambições de Erdogan seja islamizar o país, a realidade é que o país é praticamente islâmico. 

Após o reconhecimento do genocídio armênio por parte da Alemanha e da França as coisas se tornam ainda piores, no sentido de motivos para retaliação por parte de Ancara. Ancara ainda está usando Gulen como desculpa para cortar ou criar uma aparência de quebra de laços com o Ocidente

Uma desculpa perfeita para não ceder mais bases para os Estados Unidos no país, fazendo com que o campo estratégico penda para o lado de Moscou e Teerã. A Europa praticamente não poderá reagir, pois estará ocupada demais barrando refugiados, e carregando corpos dos atentados terroristas. 

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