6 de abr. de 2016

Holanda: “Não” pode vencer referendo sobre a Ucrânia






Euronews, 05/04/2016.





O referendo que ocorre esta quarta-feira na Holanda é bem mais discreto que o previsto para junho no Reino Unido, mas não menos simbólico, nem menos arriscado para a Europa. Oficialmente trata-se de dizer “sim” ou “não” ao Acordo de Associação entre a União Europeia e a Ucrânia.

Este acordo entre Bruxelas e Kiev entrou em vigor em 2015, na vertente política e, em 2016, na vertente comercial, após ter sido ratificado pelos 28 estados membros da União. Foi assinado em 2014, sob o impulso de uma revolução que acabaria por se converter na guerra entre a Ucrânia e a Rússia.
Tudo começou a 21 de novembro de 2013, quando os ucranianos saíram pacificamente à rua para protestarem contra a recusa do governo pró-russo de assinar, como se comprometera, o acordo de associação.
 
O drama da queda do voo MH17 na Ucrânia, em julho de 2014, acidente do qual a maioria das vítimas era holandesa e que criou na opinião pública holandesa a convicção da responsabilidade das forças pró-russas, poderia fazer pensar que os cidadãos da Holanda vão votar “sim”.
Bode expiatório” do desencanto holandês?
 
Mas, pelo meio surgiu uma coligação eclética, impulsionada pelo líder populista Geert Wilders, que conseguiu recolher as 300 mil assinaturas necessárias à realização da consulta popular, mesmo após a ratificação do acordo. E, ainda que o pretexto seja a associação com a Ucrânia, é visada a União Europeia, alvo preferencial da extrema direita e não será de estranhar se o “não” vencer.
 
O contexto da crise dos migrantes, a austeridade drástica, o fraco crescimento económico e a quebra do poder de compra têm alimentado o euroceticismo holandês e não será de excluir que Bruxelas tenha, já na quinta-feira, mais duas fragilidades: a Holanda e a Ucrânia, já que o parlamento holandês pode ir contra o voto expresso em referendo, mas as legislativas – previstas para daqui a um ano – tornam a manobra arriscada para os partidos no poder.

Nota do editor do blog: eu publiquei recentemente que Geert Wilders acertou em propor um referendo, junto a outros grupos eurocéticos, mas eu cometi um erro em não saber a origem do referendo. Wilders, pelo que diz a matéria, propôs o referendo junto aos grupos eurocéticos, talvez não propriamente dentro da Holanda, mas fora dela, como o FN de Marine Le Pen, e o UKIP de Nigel Farage. Se for assim, então significa que há interferência direta por parte de Vladimir Putin, pois os grupos eurocéticos em sua maioria recebem certa influência dele, e até uma graninha, como no caso da senhorita Le Pen.

Não sei se Geert Wilders está na órbita do Kremlin, mas por propor esse referendo, fica parecendo que sim. Se o “Não” ganhar será uma derrota nacional para a Ucrânia e as pessoas que se mobilizaram em Maidan, e durante aqueles dois anos contando com a decisão do governo em ceder-lhes essa oportunidade do que eles chamam de “cidadania europeia”.

Se a Ucrânia adentrar a União Europeia – ao menos é o que eu acho – para Putin será um problema, pois o país poderá exigir maior presença da OTAN, e suas solicitações serão prontamente atendidas, conforme preenchem os requisitos de adesão, assim como o país também pode exigir e influenciar numa nova rodada de sanções contra a Rússia. Para Putin isso seria demais. Polônia, Hungria entre outros não tem tanto alarde, não se mostram tão combatíveis ao Kremlin. Da Polônia eu não tenho tanta certeza ainda, mas da parte da Hungria, certo comedimento tem sido mostrado por seu líder – o que significa, seguindo a ótica da mídia russa e do próprio líder, que o líder húngaro Orbán é favorável à causa russa.

Hoje países como a Hungria e a Polônia se colocam na vanguarda da rejeição as políticas de Bruxelas, e fomentam motins contra a organização desrespeitando suas demandas pela aquisição de mais requerentes de asilo. Isso por um lado é sábio, porém, preocupante, visto que os coloca em pé de igualdade com outros grupos políticos ligados ao Kremlin, e também na trilha política anti-Europa que têm como ponta de lança eles, os russos. Não que eu morra de amores pelo “projeto europeu”, mas tirar vantagem política da situação para criar outra favorável é algo típico dos russos – e isso não é bom para a Europa, e nem para o mundo.

Portanto, a decisão de hoje pode mostrar se desta vez é o ano deles, dos russos, ou se a Europa ainda pode resistir. O que acaba de me fazer enxergar além daquilo que já havia publicado: que Geert Wilders tomou sua decisão em uníssono com grupos controlados pelo Kremlin, ou seja, ele e os chamados eurocéticos agiram de modo a gerar essa situação para desencadear as deserções na União Europeia. Agora cabe aos holandeses mostrar se a influência do Euroceticismo é tão intensa, quanto o político holandês tem pregado nesses últimos anos, ou se eles vão compadecer dos pobres e tolos ucranianos, para que se sintam parte da União Europeia, mas que propriamente fujam das garras da Rússia.

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